A nova série de filmes do herói Homem-Aranha se iniciou com um capítulo mediano, e agora retorna com uma produção melhor, mas ainda com problemas. Depois do fim da trilogia original do diretor Sam Raimi – e da sua inabilidade de bolar uma história satisfatória para um quarto episódio, vale lembrar – o estúdio Sony/Columbia apertou o botão reset na franquia e começou tudo de novo com O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, 2012).
O diretor de O Espetacular Homem-Aranha, Marc Webb, acertou no elenco, escalando Andrew Garfield como o novo herói e o cercou de bons coadjuvantes: Emma Stone, Martin Sheen, Campbell Scott, Denis Leary e Sally Field. Mas o resto do longa ficou bem morno: o vilão Lagarto era fraco e não escapava das motivações clichês – por que ele queria transformar a população de Nova York em lagartixas mesmo? – e o roteiro era cheio de subtramas mas não resolvia quase nenhuma, deixando tudo para a sequência.
Este O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro representa, em muitos sentidos, um avanço em relação ao anterior. Agora Peter Parker (Garfield) está mais confiante como super-herói, e Nova York, por sua vez, o adotou. Ele luta, sem sucesso, para manter a promessa feita ao Capitão Stacy de ficar longe da filha dele, Gwen (Stone).
Também deseja descobrir mais sobre a morte misteriosa dos seus pais, e como ela se relaciona com as Indústrias Oscorp. Peter ainda reencontra seu amigo do colégio Harry Osborn (Dane DeHaan), filho do fundador da Oscorp, e como Homem-Aranha, se vê forçado a lutar contra um novo super-vilão com poderes elétricos, Max Dillon, o “Electro” (Jamie Foxx).
Nesta segunda parte, o diretor Webb se mostra mais confiante, impressionando o espectador logo na primeira aparição do Aranha. Em algumas tomadas a câmera parece estar “acoplada” ao herói enquanto ele voa pelos prédios. Webb, é claro, também é ajudado por efeitos visuais superiores ao do longa anterior. Assim, a cada sequência de ação o que se tem é um filme bem energético, com direito até a um momento no qual o diretor “congela o tempo” e mostra o Aranha salvando as pessoas na luta contra Electro em Times Square, no melhor estilo bullet-time de Matrix (1999).
O resultado é a melhor visualização dos poderes do Homem-Aranha já realizada pelo cinema. A batalha final contra Electro é outra cena impressionante, com direito até a um criativo uso da música causado pela vibração elétrica. A trilha, composta por Hans Zimmer desta vez, em parceria com os músicos Pharrell Williams e Johnny Marr, também é bastante superior à burocrática partitura de James Horner para o longa anterior.
Além disso, Webb demonstra não ter medo de se entregar às convenções dos quadrinhos e aos seus absurdos. Fazia tempo que não se via um exemplar do gênero tão fantasioso, e sem receio de ser assim. Webb mostra compreender o universo das HQs e não tenta dar um tom mais realista ao filme, como quis fazer da primeira vez – uma decisão acertada, pois uma abordagem realista não combina com o Homem-Aranha.
Assim, no filme vemos um sujeito usando uma armadura em forma de rinoceronte – Paul Giamatti dando vida ao vilão Rino, e a última cena na qual ele aparece lembra o final da animação Os Incríveis (The Incredibles, 2004) – e um nerd sobrevivendo a um acidente maluco e se transformando em super-vilão, porque esse geralmente é o destino de quem sobrevive a acidentes nas HQs.Esse nerd é o personagem Max Dillon, que apesar de ser interpretado por Jamie Foxx, é uma figura meio desinteressante. No começo, Foxx até faz dele uma divertida caricatura, mas depois ele se transforma num mero efeito visual. Não ajuda, também, o visual do personagem lembrar o do Sr. Frio do tenebroso Batman & Robin (1997), e do meio para o final o roteiro fornece para ele os poderes do Dr. Manhattan de Watchmen: O Filme (Watchmen, 2009). Bem mais interessante que o Electro é Harry Osborn. O jovem Dane DeHaan o interpreta com um ar sinistro e rouba a cena em alguns momentos, representando o segundo maior destaque do filme.
O primeiro, claro, é a atuação de Andrew Garfield como Peter/Aranha. Seu Aranha é engraçado e cheio de energia, já seu Peter também tem um pouco dessa energia, e sempre estabelece empatia com o público. O ator claramente gosta do personagem e de vivê-lo, e seu relacionamento com a personagem de Emma Stone representa a humanidade num filme repleto de criaturas fantásticas. Juntos, Garfield e Stone até fazem o espectador ter a impressão de estar numa encantadora comédia romântica em alguns momentos.
O Espetacular Homem-Aranha 2, no entanto, é bastante prejudicado pelos problemas de roteiro. O mistério em torno dos pais de Peter fica cada vez mais desinteressante, e a onipresença da Oscorp demonstra uma preguiça dos roteiristas. Praticamente tudo na trama e todos os personagens (menos a Tia May, ao que parece) têm a ver com a Oscorp, que se torna uma verdadeira fábrica de monstruosidades dirigida por homens de negócio corruptos – claro.
Há muitos diálogos expositivos e coincidências, com os personagens se encontrando em pontos importantes da história. O grande número de tramas também deixa o meio do filme arrastado, e os vilões têm motivações muito frágeis e mudam de personalidade muito depressa. Só para se ter uma ideia, o Harry Osborn aprende a usar seus instrumentos de vilão – até um jato! – quase que instantaneamente…
Entre erros e acertos, O Espetacular Homem-Aranha 2 acaba sendo uma razoável sessão-pipoca, mas ainda bem distante do outro segundo filme do herói aracnídeo, o Homem-Aranha 2 (Spider-Man 2, 2004), de Sam Raimi. O longa de dez anos atrás era mais simples, no fundo sobre um rapaz aprendendo a se aceitar. O de hoje também conta mais ou menos a mesma história, mas com uma roupagem ligeiramente nova e fazendo uso de personagens que, na sua maioria, não apareceram na trilogia original. E com um excesso de elementos.
É reflexo da produção hollywoodiana atual o fato do Homem-Aranha de hoje ter mais de tudo: mais enredos, efeitos, vilões, enfim, mais vontade de agradar. Porém, esse excesso mais atrapalha do que ajuda no resultado final.